Reassemblage (Legendas)

Ressemblage filme de Trinh-Minh-ha 1982 40′ tradução para legendas : txt-texto de cinema

Menos de vinte anos foram suficientes…

para fazerem dois bilhões de pessoas,

se definirem como subdesenvolvidas.

Eu não pretendo falar sobre.

Apenas falar de perto.

Um filme sobre o quê?

Um filme sobre Senegal;

mas o que no Senegal?

A Casamança.

Sol e palmeiras.

A parte de Senegal…

onde instalações turísticas florescem.

Em Enampore…

Andre Manga diz que seu nome está listado…

no livro de informações turísticas.

Em cima da entrada da sua casa,

há uma placa escrita a mão que diz:

“Trezentos e cinqüenta francos”.

Um fato antropológico vazio.

Em diversas histórias…

A mulher é retratada como aquela…

que possuía o fogo.

Apenas ela sabia como fazer fogo.

Ela o guardava em diversos lugares.

Na ponta de um graveto que usava para cavoucar o chão,

por exemplo.

Nas suas unhas nos seus dedos.

A realidade é delicada.

A minha irrealidade e imaginação…

são, de outra forma, entediantes.

O hábito de impor um significado…

para todo e qualquer símbolo.

Ela o guardava em diversos lugares.

Na ponta de um graveto que usava para cavoucar o chão,

por exemplo.

Primeiro cria-se necessidades,depois, auxílio.

Sentado sob o telhado de palha…

que se estende bem além da parede frontal…

de sua recém construída casa,

Um voluntário da força de paz acena para alguns aldeões,

que param para falar com ele.

Enquanto se agacham ao seu lado e começam a falar,

ele sorri inexpressivamente,

uma par de fones de ouvido sobre suas orelhas…

e um Walkman Sony no colo.

“Eu ensino as mulheres como plantar vegetais em seus quintais;

isso permitirá que tenham uma renda”,

ele diz, e hesita antes de concluir:

” Nem sempre sou bem-sucedido,

mas é a primeira vez que isso foi introduzido…

na aldeia”.

É a primeira vez que isso…

foi introduzido na aldeia.

A mulher é retratada…

como aquela que possui o fogo.

Apenas ela sabia como fazer fogo.

O que podemos esperar da etnologia?

A terra do povo Sereer.

A terra dos Manding e do povo Peul.

Um filme sobre o que?

Meus amigos perguntam.

Um filme sobre Senegal.

Mas o que no Senegal?

Eu sinto cada vez menos…

a necessidade de me expressar.

Será outra coisa que perdi?

Outra coisa que perdi?

Filmar na África significa…

para muitos de nós…

imagens coloridas,

mulheres com os seios nus,

danças exóticas e ritos atemorizantes.

O incomum.

Primeiro cria-se necessidades,depois, auxílio.

Etnólogos manuseiam a câmera…

da forma que manuseiam palavras.

Recuperado, coletado, preservado.

Os Bamun, os Bassari, os Bobo.

Como se chama mesmo o seu povo?

Um etnólogo pergunta a um colega.

Em diversas histórias.

Diversificação a qualquer custo.

Tradições orais assim ganham…

a posição do legado escrito.

Lugar do fogo e rosto de mulher…

O panela é conhecido como o símbolo universal…

para a Mãe, a Avó…

a Deusa.

A nudez não revela…

o escondido.

É a sua ausência.

Um homem presente numa projeção sobre a África…

vira para sua mulher e diz…

com uma voz culpada…

” Hoje eu vi pornografia”.

Documentário…

pois a realidade…

é organizada numa explicação de si mesma.

Todo mínimo detalhe deve ser gravado.

O homem na tela sorri para nós,

enquanto o colar que ele usa,

o design das roupas que usa,

o banco em que ele senta,

são objetivamente comentados.

Ele não tem olho,

ele grava.

“Uma fina camada de poeira nos cobre da cabeça aos pés.

Quando a tempestade de areia vem”,

diz a criança,

“deitamos no colchão com o cachecol da nossa mãe…

em nossos rostos e esperamos passar”.

O olho onipresente.

Coçar meu cabelo,

ou lavar meu rosto,

se tornam um ato muito especial.

Vendo-a pelas lentes.

Eu a vejo transformando-se em mim

tornando-se minha.

Entrando na única realidade dos símbolos…

onde eu mesma sou um símbolo.

A terra dos Bassari e do povo Peul.

De manhã, cedo.

Um homem está sentando com sua filha em seu colo,

ao lado da cabana circular de pedra,

construída a partir do modelo de uma casa Bassari.

Uma freira católica branca vai até ele…

e diz abruptamente:

“Ainda são 7 horas da manhã,

a sua filha não está tão doente assim.

Quantas vezes eu te disse…

que nosso consultório fecha aos domingos?

Volte na segunda-feira”.

Um etnólogo e sua esposa ginecologista…

voltam por duas semanas para a aldeia…

na qual fizeram pesquisa de campo no passado.

Ele se define como alguém que fica bastante tempo,

tempo o suficiente numa aldeia,

para estudar a cultura de um grupo étnico.

Tempo, conhecimento e segurança.

“Se você não ficou o tempo suficiente num lugar,

você não é um etnólogo”.

Diz ele.

Tarde da noite,

uma roda de homens se reúne em frente a casa onde…

se hospedam o etnólogo e sua esposa ginecologista.

Um dos aldeões está contando uma história…

outro tocando música no seu alaúde improvisado,

o etnólogo está dormindo…

ao lado de seu gravador ligado.

Ele acha que exclui valores pessoais.

Ele tenta, ou assim acredita…

mas como ele pode ser um Fulani?

Isso é objetividade.

Ao longo do rio Senegal,

a terra dos Sarakhole e do povo Tukuleur.

Eu tenho a idéia…

de que iria capturar o incomum…

filmando a pessoa sem ela saber.

Há melhores formas de roubar, eu imagino.

Com o consentimento do outro.

Após me verem trabalhando com a câmera,

as mulheres me convidam para a casa delas,

e me pedem para filmá-las.

O hábito de impor…

todo e qualquer símbolo.

Para muitos de nós…

a melhor forma de ser neutro e objetivo,

é copiar a realidade meticulosamente.

Falar sobre.

K-about.

O eterno comentário que escolta as imagens.

Enfatizando a objetividade do observador.

Circula ao redor do objeto de curiosidade.

Diferentes visões, de diferentes ângulos.

O abc da fotografia.

Criatividade e objetividade…

parecem entrar em conflito.

O observador ávido coleta mostras…

e não tem tempo para refletir…

a respeito da mídia usada.

Menos de vinte anos foram suficientes…

para fazerem dois bilhões de pessoas,

se definirem como subdesenvolvidas.

O que vejo é a vida olhando para mim.

Estou olhando através de um círculo,num círculo de olhares.

115 graus fahrenheit.

Coloco um chapéu…

enquanto risadas irrompem atrás de mim.

Eu não vi nenhuma mulher…

usando chapéu.

Crianças, mulheres e homens…

vêm a mim pedindo por presentes.

Uma van dirige pela rua empoeirada,

recebida por mais uma onda barulhenta de crianças.

“Presente, presente”. Eles todos gritam…

enquanto o carro estaciona sob a sombra de uma árvore.

Um grupo de turistas sai…

e imediatamente começam a distribuir doces baratos.

Apenas fale de perto.

Uma mulher comenta sobre poligamia:

“É bom para os homens… não para nós”.

“Nós aceitamos devido a força das circunstâncias.

E você?

Você tem um marido só para você?”.

Revisão da tradução:

// .txt – texto de cinema //

Author: Edson Yann

Share This Post On