“A tentativa de uma sinestesia real”

Entrevista 

Escrito por Clarissa Macau

Ter, 05 de Novembro de 2013 00:00

Clarissa Macau/DivulgaçãoClarissa Macau/Divulgação

O cineasta e historiador francês Yann Beauvais é amante de filmes que avançam sobre o espectador, ultrapassando os limites da tela de cinema. Não estamos falando do formato 3D, tão comercializado nas salas de exibição, mas do excêntrico cinema experimental. Ao revelar os mecanismos cinematográficos, essa arte tenta, desde meados de 1920,discutir a percepção humana através da constante relação entre as novas tecnologias e linguagens. Obras que parecem imitar a percepção do nosso cérebro, pela aleatoriedade do uso do tempo, da independência em relação a uma história linear e da imersão em uma cena ou num caos de imagens e sons. Ao observar a necessidade de acessar longas e curtas estrangeiros indisponíveis na França e mostrar a vitalidade da produção de outro países, Beauvais criou, nos anos 1980, a distribuidora de filmes Light Cone.Cineastas importantes como Malcolm Le Grice e Paul Sharis apoiaram o projeto, que pretendia disseminar o experimentalismo cinematográfico além de ambientes restritos como cinematecas e festivais. Atualmente, a cooperativa distribui mais de quatro mil filmes e vídeos ao redor do mundo.

 

Desde 2011, Yann mora no Recife e é cofundador do B³, espaço voltado a discutir a relação entre os suportes digitais e o mundo da arte. Nesta conversa com a Continente, ele nos conta sobre o desafio que o experimento lança ao público e desmistifica preconceitos com relação ao gênero. “O fazer desse cinema provoca a condição da experiência de ver um filme, dando à audiência um espaço para transformar o assistir em atividade e divagação”, diz o diretor de filmes como Still life,Des rives e Tu, sempre.

 

Segundo Beauvais, o cinema que influenciou a estética dos videoclipes musicais, além de ser utilizado por cineastas aclamados como David Lynch e Gus Van Sant, ainda é pouco conhecido como arte pela sociedade, chegando a ser tachado de elitista ou confuso. Ele lança um convite para se experimentar e discutir essa cena audiovisual, que atenta ao incomum, trabalha novos significados em técnica e poesia imprevisível.

 

CONTINENTE: O que poderíamos chamar de cinema experimental?

YANN BEAUVAIS: Fazê-lo significa questionar os sentidos do cinema, o que é possível exercer com tal mídia, sempre revelando os mecanismos usados, questionando a linearidade narrativa e a percepção do tempo no cinema e para as pessoas. Desde a democratização dos meios de produção pelos computadores, aspectos que pertencem à prática foram invadidos por uma maior possibilidade de atividades fílmicas, confundindo limites de gêneros. Se o cinema experimental era considerado autoral e feito por subjetividade, hoje, é difícil definir.

 

CONTINENTE: Ao comentar sobre a dificuldade de diferenciar gêneros, gostaria que você opinasse sobre a relação entre a videoarte e o cinema experimental.

YANN BEAUVAIS: A oposição não é forte como em 1980. A diferença era o suporte entre a película, do cinema, e a fita magnética, do vídeo. O vídeo era a forma mais imediata de fazer filme. O foco não era analisar os mecanismos cinematográficos, era algo mais voltado ao mundo das galerias. Hoje, com o computador e o digital, tudo pode ser reunido, incorporando a videoarte e o experimental. As causas dos dois são similares: criticar, pensar, dar a voz. O uso da película está mais restrito, ainda cultivado pelos que têm uma fascinação pela produção de sentidos do cinema, como na Hollywood independente.

 

Leia a matéria na íntegra na edição 155 da Revista Continente

http://www.revistacontinente.com.br/index.php/component/content/article/8489.html

Author: Edson Yann

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