Imitations of Life (Legendas)

Imitations of Life  filme de Mike Hoolboom 2003 21′ tradução para Legendas  txt-texto de cinema

 

Você não imagina o futuro você esquece o passado.

Sua memória é o nosso esquecimento.

Você não tem uma ecologia do tempo.

As crianças ainda não nascidas, andarão em suas covas

como se vocês nunca houvessem vivido.

E quando deixarem este lugar

não haverá ninguém restante para lamentar por vocês.

Quando eu tinha apenas cinco ou seis anos,

imaginava que a minha sombra vivia uma vida própria.

Enquanto todos me asseguravam

que ela era um retrato fiel do presente,

eu me daria conta dela mudando com o canto do meu olho,

sempre o escravo relutante,

forçado a se mover numa cruel pantomima

de uma vida sem inspiração.

Preocupado de que ela me abandonaria,

eu tentei viver de uma forma mais interessante,

mantê-la entretida,

mas a verdade é,

me faltou imaginação

e logo cai nas mesmas rotinas que antes.

Era apenas no final do dia, longe do implacável brilho do sol,

que a minha sombra podia respirar,

liberada ao menos para juntar-se a um mundo como ela mesma.

Celebrar a comunhão da noite.

Isto é onde a minha verdadeira personalidade estava sendo feita,

enquanto deito adormecida,

e ao me tornar mais velha era difícil mover o sentimento

de que eu era quem estava fazendo o seguinte,

a sombra da minha sombra,

dava a sensação ao ter me movido pelo mundo,

de um tipo de conexão

entre coisas que pareciam estar distantes.

Os antigos tinham uma palavra para isto,

para esta escura sensação de unidade.

Eles a chamavam…

Uma noite

dormimos e percebemos ao acordar de manhã

que não conseguimos mais sonhar com imagens.

Daquela noite em diante nós sonharíamos apenas com palavras.

Ou os códigos binários de nossos computadores.

Os zeros e uns que trocamos no lugar da informação.

Somos as crianças de Fritz Lang e Microsoft.

Com o Bill Gates

aprendemos que a aldeia global

tem um só prefeito.

E com o Fritz Lang

prendemos que as imagens dos nossos sonhos

poderiam ser vistas apenas quando estivéssemos acordados

e que elas seriam enviadas a nós da cidade das redes.

A fábrica de sonhos

o lugar que eles chamam de Hollywood.

Nossas imagens são como zoológicos.

nós as dividimos

em gêneros

espécies de imagens.

Há um tipo de imagem

que reservamos

para nos mostrar o futuro

nós a chamamos de ficção científica.

Sempre que nós imaginamos

o mundo depois deste

ele se apresenta como uma catástrofe

assombrado pela ciência

obcecado com a morte

em outras palavras

ele se parece com o mundo hoje.

Ontem a noite tive um sonho com o meu pai.

Ele estava muito velho com tristes olhos escuros

que pareciam assombrados pela verdade

que ele estava prestes a descobrir.

Ele tinha transformado nosso porão em uma espécie

louca de laboratório científico, com tubos de ensaio e máquinas para todo lado,

projetado para fazer novos seres humanos.

Ele estava sussurrando para si

que o corpo tem aberturas para aceitar ao mundo,

as orelhas para escutar,

os olhos para ver,

as ele estava fazendo um corpo o qual toda a sua superfície seria uma abertura.

Ele estava fazendo um corpo

que não deixaria o exterior do lado de fora,

um corpo que diria sim para tudo.

E então eu vi quem você estava fazendo

e percebi que estava assistindo pela primeira vez

as circunstâncias do meu próprio nascimento.

O futuro desapareceu apenas recentemente.

Os palácios dos filmes estavam cheios

de pessoas famintas por imagens.

Não importava quantas vimos

queríamos mais.

Como se os nossos olhos fossem um reto

capaz apenas de expelir filmes,

em vez de uma porta para recebê-los.

Agora que nós não podemos mais sonhar nos nossos próprios mundos,

os rostos de Hollywood

eram mais importantes

que nunca.

As histórias destes filmes não nos interessa mais,

elas eram as velhas histórias,

aquelas que circularam desde o início dos tempos,

de sexo e doença e poder,

de como o mundo foi feito e nós junto com ele,

e de como voltaríamos no final dos nossos dias

a um momento de luz

vista de relance por estranhos no céu noturno,

um breve

clarão incandescente

iluminando

o vazio

do espaço.

Aqui no futuro

é a mesma guerra

os mesmos detetives solitários

a mesma mulher fatal

cada momento dos nossos corpos

se torna um instrumento de morte.

O seu mundo novo

começará como o nosso

como imagens

imagens que desejamos ver

estimar

e finalmente ser.

Nós já estamos pilhando

o nosso mundo de imagens

incapazes de invenção

nós revivemos antigas modas

transformamos o passado

em uma história de estilos.

Aqui no final da história

você encontrará as imagens

para esquecer

dissolver o Auschiwitz que carregamos no interior

o torturador dento de nós?

Encontrarás o bálsamo

para a nossa crueldade sem fim

o infinito prazer de sofrer?

O seu novo mundo

incluirá imagens

do nosso?

Ou pode o futuro

ser entendido

apenas como um perigo absoluto

como tudo o que não pode ser pensado

hoje.

Os filmes marcam a passagem do tempo

eles são máquinas do tempo

máquinas construídas para o luto

e em alguns momentos

elas são o que sobram

entre nós e o desejo de destruir tudo

de começar do zero

começar de novo.

Há dois tipos de terror aqui

o terror da aniquilação

e o terror de lembrar

qual deles acharemos mais doloroso

mais sedutor

como você

inventará o futuro?

tradução / legenda:

// .txt – texto de cinema //

 

Author: Edson Yann

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